Os braços fortes que nos embalavam, agora tremem. Os olhares que nos protegeram agora se transformam em bolas confusas e medrosas. A segurança que veio desses lábios transforma-se em impotência. Quem inventava maneiras de comermos bem, passa a necessitar que cortemos a comida em pequenos pedaços. Quem contava “um, dois, três” para nos lançar para o céu, hoje não pode subir a escada sem precisar do nosso apoio.

O tempo passa e nossos pais também crescem, isso é difícil.

Somos crianças quando nascemos e voltamos a ser quando envelhecemos. Nesta curva, nós filhos deixamos de ser cuidados e passamos a ser cuidadores. E homens e mulheres estão preparados – embora muitas vezes não saibamos como – para administrar a educação de nossos filhos. Mas não estamos em condições de fazer isso com nossos pais. Por qual razão é tão custoso?

Pensar no declínio e na morte de nossos próprios pais nos deixa tristes, irritados e confusos.

A expectativa de vida é muito maior hoje do que há décadas atrás. Nossos pais terão mais chances de chegarem a ser idosos, mas… Cuidar deles é também dizer adeus. É relembrar a nossa relação, os desafios, os carinhos, as tristezas e alegrias. A morte existe e entristece, e se é de nossos pais mais ainda. Mas, como Victor Frankl disse no horror de um campo de extermínio do genocídio nazista, “a última coisa que podem nos tirar é nossa liberdade”. E mesmo nessa situação de dor, temos opções.

Basicamente há três maneiras de lidar com essa situação: Podemos ser filhos super-protetores e hipotecar nossas vidas; podemos negar que estamos nos distanciando emocionalmente, ou podemos tentar – que é o mais difícil a se fazer. Mas o equilíbrio é sempre a melhor maneira de evitar a superlotação de consultórios psicológicos.

E se nossos pais não foram amorosos conosco?

Alguns vão pensar “meus pais não me amaram e eu sofri muito com isso, como eu me importo com eles agora?” É um dos pontos mais difíceis desta questão, quando a relação foi ruim e o amor esteve apenas em segundo plano. Torna-se muito mais complicado transformar um filho no pai de seu pai.

Há mães e pais que fazem o melhor que podem. Mas eu também devo dizer, e isso é controverso e deixo o debate em aberto, há pais que não foram capazes, não quiseram ser pais amorosos. Se os filhos sofreram muito essa falta de carinho, é muito complicado que devolvam o que não receberam.

Também é importante saber que enquanto o passado grita, o presente se torna sombrio. É importante resolver os problemas pendentes com nossos pais quando eles estão vivos. É até idiota dizer isso, mas com lápides não podemos resolver ou administrar conflitos. Não vamos deixar para amanhã os conflitos que podemos resolver hoje.

A arte de colocar limites

Por outro lado, nossos pais e nós precisamos colocar em funcionamento limites e estratégias para lidar com novas situações. Teremos que lidar com suas ansiedades, entender angústias, mas também saber dizer não. Pessoas muito idosas podem ser extremamente exigentes e seus filhos terão que se diferenciar quando algo é importante e quando não é.

Caixa de Ferramentas

Paciência: Quase tanto quanto tiveram conosco quando éramos pequenos. Se eles não se lembram de coisas, se levam muito tempo para se vestir, se são desajeitados com suas tarefas. É difícil, é difícil, mas paciência.

Criatividade

Estratégias de busca para enfrentar essa nova realidade são necessárias. Encontre momentos de reuniões, aproveite o que puder, aproveite a oportunidade para perguntar tudo o que queremos saber sobre a nossa história, ser criativo ajuda a superar momentos difíceis em nossas vidas.

Capacidade de colocar palavras em nossas emoções

A raiva é geralmente o disfarce da tristeza. Identificar se é um ou outro nos permitirá agir melhor.

Os filhos têm a possibilidade de acompanhar e serem protagonistas dos últimos anos de vida dos pais, têm a chance de dar um pouco do amor que receberam, têm a maravilhosa oportunidade de administrar a dor com amor e integridade, e talvez um dia, a ideia de morte torna-se menos tortuosa se conseguirmos fechar de forma saudável os duelos e desafios que a vida está colocando no caminho.

*Este texto é uma tradução adaptada do texto “Cómo afrontar la difícil tarea de ser padres de nuestros padres” do psicólogo Alejandro Schujman, para o Clarín.

 

Texto originalmente publicado em expressopb e adaptado pela equipe do blog Sabedoria Pura.