Uma das agressões que se manifestam como sendo racismo são as ofensas e piadas. Se dentro da escola temos essa situação, certamente a escola vai promover uma conversa sobre o assunto com ambas as partes, contudo, mesmo que isso seja uma boa iniciativa e um avanço em relação ao passado, é necessário ir mais além para alcançar uma educação antirracismo.

“As escolas trazem o racismo como uma questão entre duas pessoas, confundindo com bullying. Não o enxergam como um sistema que se retroalimenta e se reinventa”, elucida Ednéia Gonçalves, diretora executiva adjunta da Ação Educativa.

Ao falarmos de educação antirracista, se trata do relacionamento entre as pessoas , mas que também garante que todos tenham sua história e identidade respeitados no âmbito escolar.

Lutar contra as práticas de racismo é lei. E o papel das instituições de ensino  possuem uma tarefa prevista em diversos documentos, como na Constituição, na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e no Plano Nacional de Educação (PNE).

Nesse sentido,  o método de acolhida e de recolhimento das identidades solicita da escola um repensar em todas as suas dimensões: curricular, formativa, de atendimento, avaliação. Material didático, arquitetura e rotina. Isso também requer espaço para a ciência , pesquisa, cumprimento da Legislação, e de uma prática no dia a dia  edificada dentro de cada escola. “A educação antirracista exige pensar nas manifestações racistas, e o que as sustentam, em todas as dimensões de uma escola”, alerta Ednéia.

Para Lucimar Dias, coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB), da Universidade Federal do Paraná (UFPR), combater o racismo também passa por reavaliar o que é qualidade educacional.

“Não adianta existir uma sociedade em que todos tiram nota 10, mas ninguém sabe conviver com a diferença. Por isso, a qualidade da educação tem que medir quanto o clima educacional garante o acolhimento a todos, para que se cumpra o direito à educação. Mas se existe racismo, não está cumprindo”, diz.

“Na minha escola não tem racismo”. Será?

No intuito de ofertar uma educação antirracista é necessário reconhecer que o mesmo existe dentro da instituição, sendo que a escola não está imune a isso.

Para promover uma educação antirracista é preciso reconhecer que o racismo existe também na escola. Isso porque ela não é um espaço imune e está inserida na sociedade — assim sendo ela faz parte  da mesma realidade social dentro e fora da instituição.

Ednéia explica que, no diálogo com gestores e professores, é comum ouvir relatos no bairro, mas que nem em todas as instituições. Contudo, em diálogos com os demais trabalhadores envolvidos como funcionários, famílias e alunos, eles apontam violências de cunho racista naquele ambiente.

“Isso acontece, às vezes, porque a gestão e professores querem acreditar que está tudo bem. Mas isso só mostra que a autocrítica não está boa”, conta Ednéia.

Quando o  currículo já está voltado para essa questão, às relações interpessoais, e aos ambientes e linguagens, Ednéia provoca as escolas para irem além: “E como anda a autodeclaração? É aí que aparece, porque as pessoas demoram para ter orgulho da sua identidade negra. Se a escola não tiver um trabalho constante, sério e intencional de autoestima, autocuidado, de valorização dessa cultura, vai ser muito difícil as pessoas se identificarem como negras. As escolas estão avançando, mas o racismo aparece muito nas dobras. Quando você esgarça, ele pula.”

A gestão democrática

Sabe-se que a base desses avanços, se inicia com uma gestão democrática. Sem sua atuação ativa, as mudanças correm o risco de serem inócuas ou temos mais violências nesse sentido. Dessa forma , faz se necessário que gestores e professores analisem e mantem uma conversa em conjunto com a famílias, a comunidade, a sociedade civil, os estudantes, e todos os profissionais da escola para compreender quais são os desafios, como o racismo se aparece naquele ambiente, e para criar coletivamente um plano de ação para superá-lo.

“A gestão tem a função de, em conjunto com todos, promover articulações intersetoriais, construir protocolos de prevenção, processos de formação continuada, e pensar procedimentos de encaminhamento. Também deve observar a Legislação, levantar Marcos Legais e colocá-los acessíveis a todos”, esclarece Ednéia.

Este artigo foi publicado originariamente do site de referência,  para saber mais acesse o  site- Centro de referencia educação integral, o mesmo foi reproduzido adaptado por equipe do blog Sabedoria Pura