Gilmara Neves, idealizadora da marca Chita Chic Inspire e uma das personagens do documentário “Fio do Afeto”, de Bianca Lenti, que estreou no Festival do Rio, em outubro de 2022. Gilmara atua como ativista social, e se envolve com isso desde seus 13 anos de idade. Mas, a partir de 2019, sua carreira começou a tomar novos rumos.
Uma equipe da empresa Vale, que iniciava um projeto de empreendedorismo social comunitário, chegou até Gilmara por meio de uma indicação. “Eles falaram que eu precisava ter um grupo. Eu disse que tinha um grupo de mulheres, com o qual eu fazia um trabalho de empoderamento e combate à violência”, conta Gilmara, em entrevista ao Hypeness. Desse grupo, 28 mulheres aceitaram embarcar no desafio.
Durante dois meses, elas frequentaram o curso de modelagem de negócio oferecido pelo programa e, ao final, precisavam apresentar um projeto de conclusão. “Tínhamos visto numa reportagem uma mulher da Bahia que fazia vestidos de chita para mandar para a África e ficamos encantadas com aquilo”, diz. “Eu e mais duas colegas falamos que podíamos fazer algo parecido, só que nós não sabíamos costurar. Sempre falo que eu não sabia nem colocar a linha na agulha, quanto mais costurar (risos).”
A equipe do programa gostou muito do projeto e, entre os 18 grupos participantes, o dela foi um dos escolhidos para ganhar apoio. E, de repente, Gilmara viu a sala de sua casa tomada por máquinas de costura e tecidos.
Veio a pandemia
Com a pandemia, assim como vários outros setores, o pessoal da costura também precisou se adaptar. ”Entrei na internet e vi como fazer máscaras. Comecei a fazer máscaras de chita. Percebi que Marabá, que é a minha cidade, estava com um pico muito alto de covid, e o pessoal que cuida da limpeza andava sem máscara. Comecei a chamá-los e dar a máscara para eles.”
Gillmara contabiliza mais de 100 mil máscaras doadas. “Tenho um grupo de mulheres com quem trabalho também, que são mulheres com câncer. Tem mulheres daqui que fazem tratamento em Barretos. Fizemos também máscaras infantis e mandamos para hospital de lá.”
Ainda durante o isolamento social, Gilmara descobriu a escola de costurar de Diana Demarchi, que é colunista da revista “Manequim”. “Entrei numa turma, e o que eu aprendia online eu ensinava para as meninas. Tivemos também uma professora que nos deu aula, mas a Diana nos ajudou muito”, conta. “No ano passado, Diana resolveu fazer o primeiro encontro de alunas (em São Paulo). Ela escolheu cinco alunas para representar a escola e nós fomos uma das escolhidas.”
E a chita se fortaleceu como protagonista de grife
“A chita é a cara do Brasil, colorida, alegre, com flores. Depois do tempo em que foi usada para vestir escravizados e negros, ela passou a ser utilizada como adereço de decoração ou para roupas de festa junina. E então ficou esquecida, porque nos apaixonamos pelos tecidos chineses, europeus, sintéticos, e esquecemos que a nossa essência é o algodão, que tem mais a ver com a nossa realidade, que é tropical. A chita permite ter essa leveza. Começamos a fazer com que essa chita entre no circuito da moda não só para decoração nem só para festa junina”, ela explica.
Texto originalmente publicado em hypeness e adaptado pela equipe do blog Sabedoria Pura.