Resiliência é uma das 5 habilidades que podem (e devem) ser ensinadas às crianças.

“A resiliência lhes dá confiança para enfrentar o mundo diariamente porque acreditam que conseguirão, independentemente do que aconteça”, afirma a psicóloga australiana Judith Locke, especializada em cuidados parentais e bem-estar infantil e autora do livro “The Bonsai Child”, de 2015.

Autorregulação, desenvoltura, respeito e responsabilidade são as outras características também importantes aos pequenos. “Focar nessas habilidades pode aumentar a chance do filho prosperar no futuro, independentemente de quaisquer desafios que eles possam enfrentar”, escreve Judith no artigo “Como criar uma criança resiliente”, publicado na revista digital australiana “Psyche”.

Ela explica que as crianças nascem com personalidades diferentes – algumas são mais independentes e capazes que outras, por exemplo. “Mas só porque seu filho pode parecer não ter habilidades, isso não significa que você deva intervir mais para compensar a deficiência percebida.”

Para a psicóloga, os pais têm de resistir à tentação de simplificar a personalidade do seu filho e evitar dizer a ele o que julgaram ser sua personalidade “natural”. Isso porque somente pelas tentativas de ajuda dos pais, os filhos podem perceber o que os pais pensam deles, fazendo com que se sintam ainda menos capazes de enfrentar os desafios, diz ela.

A seguir, Judith detalha cinco habilidades essenciais às crianças, que lhe serão úteis a longo prazo. Ela explica aos pais como ensiná-las, o que não fazer e por que elas são importantes. Confira!

5 habilidades que as crianças devem aprender

Resiliência: confiança para enfrentar o futuro

Por que trabalhar essa habilidade: Seus filhos terão a capacidade de se recuperar de circunstâncias desafiadoras e superar as dificuldades, independentemente da situação que possam enfrentar agora ou no futuro. A resiliência lhes dá confiança para enfrentar o mundo diariamente porque acreditam que conseguirão, independentemente do que aconteça. Isso os capacitará a viver vidas mais interessantes e realizar mais, sem medo do fracasso ou dificuldade.

O que não fazer: A superproteção dos pais reduz a capacidade das crianças de desenvolver resiliência, porque as priva da oportunidade de aprender a lidar com o desconforto ou constrangimento ocasional que podem sentir ao se esforçarem na busca de um objetivo. Crianças mimadas começarão a fazer apenas atividades nas quais tenham a garantia de sucesso e manterão o controle total de seu ambiente imediato.

Como ensinar a resiliência às crianças: Permita que enfrentem desafios adequados à idade. Você pode começar aos poucos com isso, por exemplo, não intervindo imediatamente quando eles se deparam com resultados ligeiramente frustrantes. Por exemplo, deixe-os continuar seus esforços para empilhar os blocos ou amarrar os cadarços, mesmo quando enfrentem dificuldades iniciais e realizar tais tarefas. Ao mesmo tempo, elogie seus filhos por seus esforços genuínos e persistência. Quando tiverem sucesso, isso os ajudará a compreender as qualidades que os capacitaram a superar um desafio ou aprender uma nova habilidade. Observar sua resiliência diante de tarefas difíceis também incentivará seus filhos a acreditar que têm a força necessária para enfrentar provações futuras.

Autorregulação: capacidade de resistir ao imediato

Por que trabalhar essa habilidade: Seus filhos serão mais capazes de resistir a fazer algo imediatamente agradável, em busca de um objetivo futuro maior – como terminar o dever de casa à tarde, em vez de se jogar na frente do Netflix; resistir em comprar doces no caminho da escola para casa, para que possam economizar para um novo jogo da Nintendo; ou trabalhando duro para praticar seus movimentos de skate para dominar novos truques, apesar de quedas e falhas ocasionais.

O que não fazer: Praticamente tudo de bom na vida – carreiras, negócios, relacionamentos, empreendimentos criativos de sucesso – dependem da auto-regulação que está envolvida em sustentar o ‘cozimento lento’, em vez de sucumbir à atração da gratificação imediata. Se você sempre garante que seus filhos sejam felizes e bem-sucedidos aqui e agora, eles não terão a chance de descobrir o valor de, às vezes, ignorar suas preferências atuais ou humores temporários para seu benefício futuro.

Como ensinar a autorregulação às crianças: Estabeleça consistência nos três “Rs”: regras, rotinas e repercussões. Estabeleça regras básicas e rotinas previsíveis para seus filhos seguirem, como hábitos matinais de se levantar, tomar café da manhã e vestir-se com as roupas da escola antes de ir brincar com seus brinquedos. Consequências consistentes e calmas também ajudam. É menos provável que seus filhos ultrapassem os limites se souberem que ignorar uma instrução significa que perderão algum tipo de privilégio, mesmo que apenas momentaneamente. Com o tempo, resista à tentação de sempre lembrá-los de suas responsabilidades. A longo prazo, sua motivação interna será um incentivo mais eficaz do que seus lembretes agindo como um “despertador” externo que sempre toca para eles.

Desenvoltura: habilidade de encontrar soluções em meio ao caos

Por que trabalhar essa habilidade: Crianças com desenvoltura são capazes de adaptar seus comportamentos e responder apropriadamente a uma situação alterada. Isso depende de encontrar soluções em meio ao caos, escolhendo se concentrar em maneiras de lidar com a situação, em vez de procurar alguém para culpar ou afundar na condição de vítima.

O que não fazer: Se você usar sua própria desenvoltura para resolver os problemas de seus filhos, eles não terão a chance de aprender como se adaptar a situações diversas, mesmo em idade em que já deveriam estar “se virando” sozinhos.

Como ensinar a desenvoltura: É simples – pare de resolver os problemas dos seus filhos para eles. Comece permitindo que enfrentem alguns desafios mais adequados à idade a cada ano, como perguntar ao garçom onde fica o banheiro em vez de perguntar por eles, ou encoraje-os a falar com o professor sobre onde sua redação deu errado, em vez de insistir em perguntar por eles. Você também pode incentivá-los a resolver mais problemas sozinhos em casa, por exemplo, quando discutem com os irmãos na TV ou no computador. Outra estratégia é encenar hipóteses – por exemplo, pergunte-lhes o que fariam se esquecessem a merenda escolar.

Respeito: humildade para não querer ser sempre o centro das atenções

Por que trabalhar essa habilidade: ela é essencial para se adequar à sociedade em geral. Embora associado a agir de modo apropriado frente a autoridades e convenções sociais em casa e na escola, ensinar respeito às crianças vai além de considerar os direitos e sentimentos de outras pessoas.

O que não fazer: Se você consistentemente faz seus filhos acreditarem que eles são as pessoas mais importantes na sala, eles não desenvolverão respeito e a capacidade de se encaixar em uma variedade de ambientes. Manipular situações para permitir que seus filhos ganhem ou triunfem significa que eles não aprenderão a se sentir confortáveis ​​quando os outros brilham. Isso os prejudicará a longo prazo, tornando-os opções menos atraentes como membros da equipe ou colegas de trabalho.

Como ensinar o respeito: Quando nasce um filho, a família se ajusta às necessidades dele. Aos poucos, porém, será ele quem terá de aprender a se adaptar para fazer parte de um grupo. Assim, é essencial começar a construir o respeito de seus filhos pelas necessidades dos outros e incentivá-los a que não queiram ser sempre o centro das atenções. Ensine-os a se revezarem nas brincadeiras, ouvir os outros à mesa e também a falar e cooperar no uso de recursos escassos, como compartilhar a TV com os irmãos, ou não insistir em pegar o último pedaço de bolo ou pizza. Elogie-os quando eles mostrarem essas habilidades e tome cuidado para não dar muita atenção a qualquer comportamento desagradável e de busca de atenção que eles exibam.

Responsabilidade: atitude em benefício de todos a nosso redor

Por que trabalhar essa habilidade: Ela é uma extensão do respeito e exige que seus filhos façam coisas que beneficiam as pessoas ao seu redor e a sociedade em geral. Podem ser atividades menores, como falar em um volume baixo em um local público ou deixar um idoso sentar no ônibus. Significa ser responsável pelos erros que você comete e assumir e reparar quando você faz a coisa errada.

O que não fazer: Quando você prioriza os direitos de seus filhos sobre as responsabilidades que lhes cabem, você os impede de aprender a habilidade de ser responsável e de experimentar os benefícios do bem-estar e de contribuir para a sociedade. Lembre a seus filhos que existe igual, senão maior, felicidade no que eles fazem pelos outros do que no que os outros fazem por eles.

Como ensinar a responsabilidade: Uma das maneiras mais eficazes de ensinar responsabilidade a seus filhos é dar-lhes tarefas desde pequenos. Crianças a partir dos três anos podem ajudar a pôr a mesa e sentir que são membros contribuintes da família. Quanto mais cedo você começar, mais seus filhos aceitarão que precisam contribuir para a família por meio de atos de serviço. Incentive a motivação deles vinculando seus direitos, como tempo na tela e mesada, com suas responsabilidades, como fazer tarefas regulares. Outras maneiras de ajudar a desenvolver o senso de responsabilidade nas crianças são: sugerir que doem parte de seu dinheiro ou bens para instituições de caridade; sejam os únicos responsáveis por um animal de estimação, desde que tenham idade suficiente; ajudem seus vizinhos; façam trabalho voluntário.


Judith Lockeé psicóloga clínico. Ela oferece sessões sobre bem-estar infantil para pais e professores em escolas em toda a Australásia. É autora de A Criança Bonsai (2015).

FONTE cangurunews